sexta-feira, 7 de abril de 2017

SER LIVRE É PODER TER UMA PAREDE BRANCA


Uma vez vi uma reportagem sobre pessoas que trabalhavam para ajudar moradores de rua. Chamou-me a atenção um homem que dedicava seu tempo para levar um pouco de alento e conforto para essas pessoas, desde comida, abrigo, até apoio espiritual. Ele vivia de maneira simples, morava em um quarto alugado e possuía apenas objetos de primeira necessidade. Ele se considerava uma pessoa feliz, pois todas as suas necessidades eram atendidas, e estava contente com a vida que tinha.

A vida toda aprendemos que para se ter sucesso é preciso ter uma casa grande cheia de móveis bonitos, louças, objetos de decoração, jardim, piscina e uma garagem para no mínimo dois carros na garagem. Assim, passamos a vida toda trabalhando para construir um lugar para morar que satisfaça todas os nossos desejos. Compramos coisas, funcionais ou não, visando o conforto nosso e da nossa família. Nunca paramos de adquirir e construir e, quando deixamos o nosso canto com a nossa cara, já não nos agrada mais, partindo, desse modo, para um novo projeto de vida.

E a vida? Ela passa... O tempo não perdoa e muitas vezes não chegamos a usufruir daquilo que levou nosso esforço em horas de trabalho em que não aproveitamos os momentos com a família. Não fomos às apresentações da escola dos nossos filhos, não aceitamos os convites dos amigos, nem sentamos para jogar conversa fora com os que amamos.

Levei anos para perceber que as experiências são mais importantes que os bens. Vi e vejo pessoas que amo serem afetadas por enfermidades, sem poder desfrutar de tudo o que construíram com muito esforço. Elas não tiveram tempo, mas felizmente eu percebi isso a tempo de mudar a minha história.

Claro que penso no futuro, em ter conforto na velhice, porém eu vivo. Trabalho, e se hoje eu vivo uma vida mais tranquila é porque me preparei para isso. Escolhi um lugar para morar que supre as minhas necessidades, um apartamento perto do centro, com facilidade de locomoção e serviços na redondeza, já que não dirijo e uso muito o sistema de transporte urbano.

O meu apartamento tem a minha cara, poucos móveis e muita funcionalidade. Tudo o que possuo eu uso e o que não tiver serventia eu não tenho dó de passar para frente. Adotei o estilo minimalista e isso tem contribuído para o meu crescimento e desprendimento material. Com menos coisas para tomar conta, eu aproveito o meu tempo para fazer o que gosto, ler, cozinhar, assistir a filmes e séries, ouvir música e planejar as minhas viagens. Aliás, como compro só o necessário, consigo me programar para viajar para lugares que sempre estiveram em meus sonhos.

O destralhe tem feito parte da minha vida há algum tempo. Só mantenho o que realmente tem significado para mim, apenas o que me faz feliz. Doei roupas, sapatos, livros, louças, tudo o que considerava que tinha em excesso. Tenho mantido esse hábito e posso dizer que, quanto mais a gente se desapega das coisas, mais elas perdem a importância em nossa vida.

Limpar meu apartamento hoje está muito mais fácil, pois não tenho nada exposto para pegar pó. Dou conta sozinha e o dinheiro que gastaria com faxineira eu converto em diárias em hotéis pelo mundo. Mantenho uma cristaleira de uma porta com as minhas lembranças de viagens, que são as únicas coisas que guardo com apreço. Cada pratinho ou miniatura traz histórias de momentos inesquecíveis, que ficarão guardados para sempre em minha mente. Isso ninguém pode tirar de mim até a morte.

Consegui deixar no meu quarto apenas a cama e uma TV na parede, algo impensável, anos atrás, pela quantidade de roupas, sapatos e acessórios que possuía. Meu escritório se resume a meu notebook e uma caixa de madeira média em cima da mesa da sala com coisas de primeira necessidade, como canetas, tesoura, grampeador etc. Mantenho apenas os livros de trabalho e alguns seletos em uma estante pequena em uma parede da sala de estar. CDs e DVDs também me desfiz de quase todos, mantendo apenas alguns especiais. Uso e abuso da tecnologia para evitar o acúmulo de papéis e coisas do tipo.

Na cozinha apenas as louças e objetos que uso diariamente. Não tenho nada guardado para ocasiões especiais. Todos os meus dias são especiais e tudo é usável e substituível, se precisar. Meus objetos de decoração se resumem a um quadro de fotos de viagens e alguns quadros, dentre eles o mais importante: um mapa múndi com os lugares em que estive marcados.

No meu quarto eu tenho uma parede de tijolos à vista branca e limpa sem quadro, apenas com uma TV no canto. Chamo isso de liberdade, poder olhar para essa parede e ter a sensação de que não preciso de bens materiais para impressionar, não preciso provar para ninguém quem sou pelo que visto ou possuo. E isso vale para tudo na minha vida, para o meu trabalho, meus estudos e o que eu resolver ser.

Isso não é regra para todo mundo, cada pessoa mantém o que a faz feliz. Se ser feliz para você é ter uma casa espaçosa com muitos objetos, uma casa na praia, carros modernos etc, continue trabalhando para realizar os seus sonhos. Só digo uma coisa: desfrute de tudo o que você construir. Não deixe para amanhã viver, pois amanhã poderá não chegar e os que ficarem podem não dar o devido valor que você deu para os bens materiais. Apenas viva!

UM TEMPO SOZINHA

Apesar de não parecer, sou uma pessoa muito introvertida. Essa característica me faz alguém que tira a energia de forma diferente das pessoa...