segunda-feira, 22 de julho de 2019

A NOSSA BUSCA ETERNA SEM SABER O QUE BUSCAMOS




Desde que passei a buscar uma vida mais simples, tenho refletido sobre o quanto as coisas materiais escravizam as pessoas. Isso pode soar como clichê ou papo de alguém que fracassou em conseguir sucesso e se conformou com uma vida medíocre, no entanto tenho encontrado muitas pessoas e conhecido suas histórias de renúncias e de mudanças.

Acredito que o meu gosto por viajar tenha contribuído para isso, pois passei a dar mais valor aos momentos e às experiências e, aos poucos, comecei a aproveitar mais os passeios, ao invés de agregar coisas e trazer uma mala abarrotada de souvenires dos lugares que visitei. 

Antes era um suplício, para mim, preparar uma mala de viagem e pensar em todas as coisas para todas as situações que poderiam surgir. Sempre trazia a metade sem usar e ainda comprava mais, tendo que me virar para fazer caber. Houve até vezes em que precisei comprar outra mala para dividir o peso e não pagar excesso. Hoje levo apenas o que vou usar, repito muito, lavo no quarto do hotel e não ligo em aparecer em várias fotos com o mesmo casaco, pois o que importa é o cenário, e não a roupa. Tiro muitas fotos para guardar de lembrança e compro um pequeno objeto de cada lugar. Algo que não se torne excesso, nem faça volume, no caso de eu me mudar de apartamento, ou seja, que caiba em uma caixa de sapato, junto com os demais objetos. 

O ponto a que quero chegar, partindo desse pensamento, é que estamos sempre em busca de algo que não sabemos direito o que é, e quando alcançamos um objetivo, isso já não é interessante como imaginávamos e passamos a focar em outros. Logicamente, esse é o ciclo da vida e metas e ambições fazem parte do processo do desenvolvimento humano. Sem foco, não sairíamos da cama (nem da caverna), não estudaríamos, não lutaríamos para ser pessoas melhores e não melhoraríamos as nossas vidas, nem das pessoas em nossa volta. 

É difícil entendermos por que alguém largou um emprego seguro para se dedicar a algo de que realmente gosta. Há muita coisa em jogo, principalmente quando se tem filhos ou pessoas que dependem de nós. Não podemos simplesmente chegar para essas pessoas e dizer: "Pare de fazer fisioterapia, natação e francês porque agora sou uma pessoa desapegada e vou morar numa ilha. Se vire!"

Deixando de lado ideias radicais e sem fundamento, o que quero dizer é que podemos ter as nossas ambições, trabalhar para crescer financeiramente e ter algo sólido para nós e para os nossos herdeiros, aproveitando aquilo que lutamos tanto para construir. 

Conheço pessoas que passaram a vida toda se privando e deixando de aproveitar os momentos em família porque tinham que se dar ao máximo para construir um patrimônio e garantir o seu futuro. Hoje gastam praticamente toda a sua renda com doença, que provavelmente foi consequência dos períodos de estresse e privação de sono, sem descanso.

Não há fórmula nem receita garantida para uma vida plena. Cada pessoa sabe o que precisa para viver dignamente e dar o melhor aos que dependem de si, porém sabemos que o dinheiro gasto em experiências é o que mais nos traz boas lembranças. Um dia bem aproveitado com as pessoas que amamos vai ficar na memória para sempre. Tiramos fotos juntos, comemos, bebemos, rimos, relembramos histórias antigas e guardamos tudo no coração. 

Se a preocupação é deixar algo de material para os filhos, podemos deixar experiências que lhes agreguem valor. Bons estudos, cursos de línguas, música e artes, aulas de esportes, um intercâmbio para um outro país, há muitas maneiras de investirmos para o crescimento profissional das crianças e adolescentes. Uma tarde em uma livraria, ou no cinema, ou até chamar os amiguinhos de escola para fazer biscoitos vai certamente fazer uma criança feliz por muito tempo. E os bens materiais que deixarmos, na medida das nossas possibilidades, que sejam bem aproveitados pelos herdeiros, e que esses reconheçam o sacrifício e tempo investidos. 

Para que isso aconteça, voltamos à ideia de investirmos na educação dos nossos filhos. Quando falo investir em educação, refiro-me à escola particular, e também à pública, pois há gastos com material escolar, uniforme, transporte etc. Ajudar os filhos a buscar cursos e aperfeiçoamento em instituições públicas ou privadas é investir em educação.

Sou uma pessoa ambiciosa. Trabalho, estudo, tenho planos, gosto de parecer bem, adoro uma roupa nova e amo comer coisas gostosas. Tudo isso demanda dinheiro, mas nunca vou além das minhas possibilidades, nem entro em dívidas, sem necessidade. Se quero viajar ou comprar algo de maior valor, faço um planejamento e vejo se conseguirei pagar, tendo em mente possíveis riscos. Já perdi o emprego, fiquei doente e tive vários imprevistos, o que teria sido um transtorno maior se não tivesse me precavido. Busquei ajuda e conselho financeiro quando precisei e não tive vergonha de admitir meu erro e usar isso como experiência para não repeti-lo. O que entendo de economia é o que aprendi com meus pais e o que vi observando os erros e acertos dos outros. 

Quero ter paz e viver confortavelmente, sem preocupação em querer passar uma imagem irreal de sucesso. Muitas pessoas querem levar uma vida para mostrar aos outros, e as redes sociais contribuem para esse pensamento. 

Há uma síndrome, mencionada pela primeira vez no ano 2000, que se chama FoMO (Fear of Missing Out), sigla em inglês que significa "medo de estar perdendo algo". As pessoas precisam estar 24hs conectadas ou têm a sensação de que algo interessante vai acontecer e elas não tomarão conhecimento. Precisam postar nas redes sociais tudo o que comem, compram ou fazem. Seguem blogueiros e youtubers que abrem a vida escancaradamente na internet e não se dão conta de que muito dessa exposição é pressão de marcas que exigem produção de conteúdo para retorno financeiro. Basta lembrar de casos jogadores de futebol que precisam entrar em campo, mesmo machucados, devido ao que foi estipulado no contrato.

E as pessoas "reais", para não parecerem tão comuns, têm que mostrar o tempo todo que estão felizes. Não critico quem usa Facebook e Instagram para compartilhar fotos e ideias. Eu uso essas redes para indicar lugares em que comi, coisas que comprei e faço relatos de viagens e experiências, como aqui nesse blog, porém meu propósito é dividir e mesmo ajudar, assim como busco também indicações de muita coisa que quero fazer.

O problema é quando tudo isso se torna um vício e deixamos de aproveitar um momento porque temos que registrar tudo e postar no Facebook. Não aproveitamos a nossa viagem porque estamos de olho no nosso colega de trabalho que viajou para um lugar melhor. E já planejamos ir para aquele lugar nas próximas férias porque o destino que escolhemos já não é mais interessante. 

E assim fazemos com tudo, casa, carro, enfim, o que escolhemos para nós é para mostrar para alguém, e se esse alguém posta nas redes sociais, precisamos mostrar que também podemos bancar e estamos felizes. 

Assim, vamos buscando eternamente satisfazer os nossos desejos, compramos coisas para preencher o vazio infinito da nossa existência e nunca sabemos o que estamos buscando. É como aquela criança que quer tanto aquele brinquedo de Natal e, quando finalmente recebe, brinca uns dias e logo perde a graça. 

Parece que tudo perde a graça depois de um tempo e precisamos de sempre mais. O livro lido perdeu a graça, o emprego almejado perdeu a graça, o carro zero perdeu a graça, a viagem dos sonhos perdeu a graça, enfim a vida perdeu a graça. 

Não gosto de dizer que precisamos, obrigatoriamente, ter um propósito, porque é muito relativo para cada um. Há os que preferem paz, morar no meio do mato, em meio a natureza. Há os que preferem a cidade, como eu, que têm um apartamento pequeno com poucas coisas, para poder ter dinheiro para viajar. Há os que desejam uma casa grande e confortável para receber os amigos e fazer um bom churrasco no final de semana. (Adoro esses últimos! Hehehe! Podem me convidar, que eu ajudo a fazer, levo sobremesa e ajudo a limpar). 

O que quero dizer é que precisamos entender que nunca chegaremos ao ápice do sucesso almejado. Nunca estaremos satisfeitos e a felicidade completa é ilusão.  A vida é feita de momentos felizes, de comunhão com familiares e círculo de amigos, de experiências, dificuldades, erros e acertos. Os nossos problemas podem ser os anseios de outros. 

Enquanto nosso avião atrasa horas e postamos no Facebook que estamos no aeroporto e não aguentamos mais esperar, outras pessoas desejariam ter esse problema e estar em um aeroporto esperando um avião, pois muitas delas nunca viajaram e nem imaginam ter essa experiência um dia.

A busca será sempre eterna e a vida passará diante dos nossos olhos, sem nos darmos conta. Só notaremos no final, ao ver que buscamos tanto e tudo o que realmente tem significado esteve sempre conosco e não demos valor: tempo e saúde. 





Nenhum comentário:

UM TEMPO SOZINHA

Apesar de não parecer, sou uma pessoa muito introvertida. Essa característica me faz alguém que tira a energia de forma diferente das pessoa...