sábado, 16 de novembro de 2019

SOBRE SE ARREPENDER


Tenho pensado muito ultimamente sobre o que tenho feito ao longo desses anos e, às vezes, faço um balanço das minhas escolhas pessoais e profissionais. O que vivo hoje é uma soma de decisões acertadas ou não, renúncias, esforço, "deixa-pra-lá" e mudança de objetivos. Penso que todos temos alguns arrependimentos e gostaríamos de ter dado outro rumo à nossa vida em algum momento, mas, ao mesmo tempo em que reflito sobre isso, acredito no aprendizado e amadurecimento vindos como consequência de tudo o que fizemos.

E essa história de "ah se eu tivesse a cabeça de hoje com a idade de ontem" é pura ilusão, pois o que somos hoje é o acúmulo de experiências boas e ruins ao longo dos anos. Provavelmente, se pudéssemos nascer de novo, faríamos as mesmas coisas, nos envolveríamos com as mesmas pessoas e teríamos os mesmos desejos. 

Hoje a maturidade me ensinou que, mais do que tudo, precisamos viver o momento presente. Eu já quis ser e ter muitas coisas, imaginava que a felicidade seria alcançada no momento em que eu estivesse estabilizada emocional e materialmente, no entanto, esse dia nunca chega e não chegará. Há sempre algo a desejar, a querer mudar, a construir, pessoas a conhecer, acidentes de percurso, novidades, enfim, estamos sempre em busca de coisas e sentimentos que nos completem e, ao evoluirmos, passamos a ter outros gostos e querer viver de outra forma. 

Aprendemos analisando os acertos e erros das outras pessoas com quem convivemos. Os nossos pais tiveram as mesmas inseguranças que nós hoje temos, e não podemos exigir deles explicações por não terem agido de determinada maneira, pois viviam em outros tempos e eram cobrados também por suas atitudes.

Sinceramente, posso dizer que a única coisa pela qual eu não me arrependo e tenho a absoluta certeza de que nunca me arrependerei é ter investido dinheiro nas minhas viagens. É um dinheiro gasto fruto de muito trabalho, de finais de semana em casa no computador, de privações, de trajetos debaixo de chuva, em ônibus abarrotados e muita sola de sapato gasta. 

São dez anos mais ou menos, todos os anos, fazendo uma viagem longa, em que conheço lugares novos e retorno a outros, na maioria das vezes sozinha, mas encontrando familiares e amigos pelo caminho. Provo as comidas, visito pontos turísticos e lugares inusitados, não tão populares, ando de trem, ônibus e metrô, vago pelas ruas, sem rumo, entro nas lojas apenas para olhar, em mercados para ver o que as pessoas consomem, escolho um restaurante ou café famoso por viagem, para não gastar muito e poder ter história para contar. 

E viajar também, além da bagagem cultural, tem me trazido muita experiência de vida, tem me mostrado que preciso sair cada vez mais da aldeia e descobrir as diversidades do mundo e conhecer pessoas. Tem sido um aprendizado significativo, que tento passar para as pessoas interessadas em descobrir o mundo, como eu.

Lembro das minhas primeiras viagens em que carregava uma mala enorme abarrotada de coisas que achava que precisaria. Voltava com a metade sem usar e uma tremenda dor nas costas. Hoje posso dizer "de cátedra" que sou perita em viajar com uma mala de mão, o que me poupa tempo e dinheiro, pois as companhias aéreas passaram a cobrar para despachar bagagem. Levo o que sei que realmente usarei e raramente compro algo, pelo contrário, levo coisas já bem usadas e vou deixando pelo caminho, quando quero substituir algum item. Duty-free shop para mim é para comprar coisas para consumo, como perfume, chocolate, queijo, bolacha ou algum item de maquiagem para substituir outro que acabou. 

Se me perguntarem se me arrependo de algo que tenha feito em alguma viagem, certamente direi que não. Mesmo que tenha deixado de fazer, por algum imprevisto, não me chateio e me programo para fazer em uma próxima.

Estou sempre olhando fotos antigas de lugares que conheci. Gosto de postar no meu instagram específico para isso @crissolotrips fotos de todos os lugares que já visitei, não para querer aparecer ou algo do gênero, mas para mostrar às pessoas que é possível realizar sonhos. Basta priorizar, programar-se e trabalhar duro para isso, que o seu dia chegará. Quando sinto que alguém se interessa pelo assunto, tenho o maior prazer em contar o que vivi, como faço para programar uma viagem e respondo todas as dúvidas que surgem. Ao notar que a pessoa não se interessa, apenas pergunta para especular ou acha loucura o que faço, simplesmente não dou continuidade. Nessas andanças pelo mundo encontro pessoas de todas as idades e ouço as mais variadas histórias. Todas elas, sem exceção, nunca falam de arrependimento por estarem conhecendo um novo lugar. 

Pode até parecer pretensão minha, porém tenho a absoluta certeza de que o dinheiro gasto em minhas viagens, o que poderia ser investido em um carro ou em um procedimento estético, por exemplo, foi muito melhor aproveitado. Obviamente, sou prevenida, guardo para uma emergência, vivo confortavelmente, sem excessos, programo-me para envelhecer tranquilamente, mas não deixo de fazer o que tenho vontade.

Como disse, não compro muitas coisas em viagens, contudo, gosto de trazer algo que me faça lembrar do lugar, um pequeno souvenir, uma camiseta, uma bolsa, uma caneta ou alguma miudeza. Tiro muitas e muitas fotos que ficam armazenadas na nuvem e em redes sociais. Passei a não imprimir mais, para não acumular coisas em casa. Estou em uma fase de ter cada vez menos coisas e viver cada vez mais experiências. Penso que escolher viajar tem contribuído muito para esse pensamento. 

O texto do autor desconhecido, que tenho na descrição do meu álbum "Perambulando pelo meu mundo", no facebook, resume a minha vida e o que eu quero daqui para frente:

Não construí nada que me possam roubar.
Não há nada que eu possa perder.
Nada que eu possa trocar,
Nada que se possa vender.

Eu que decidi viajar,
Eu que escolhi conhecer,
Nada tenho a deixar
Porque aprendi a viver.





UM TEMPO SOZINHA

Apesar de não parecer, sou uma pessoa muito introvertida. Essa característica me faz alguém que tira a energia de forma diferente das pessoa...